sábado, 29 de dezembro de 2012

moinho


joão se levava muito a sério. não é que fosse burro ou não defendesse ideais com procedência. a questão era que joão acreditava piamente na sua imprescindível existência e na sua invariável razão. a primeira ele externalizava na sua atitude em tudo que participava; parecia crer que, caso se ele não estivesse ali, nada daquilo estaria funcionando. tinha uma necessidade de manter tudo próximo de si. a segunda era que joão não conseguia ser contrariado em discussões. defendia ideias bonitas de debate, troca de ideias horizontalmente, desde que a conclusão fosse do modo que defendia, caso contrário logo se emburrava. joão achava o restante das pessoas burras e pouco esforçadas; cria que todos deveriam ter o mesmo nível de esforço que ele – dedicava 12 horas de seu dia para estudos e revisão de seus afazeres. ria de pessoas que não estudavam o mesmo que ele ou que erravam algo. estudar academicamente, falar academicamente faziam parte de um plano de vida; acreditava na academia como a religião suprema da humanidade. não que a defendesse em sua estrutura, mas acreditava que as críticas que tinha para com a academia eram       culpa de pessoas que não estavam a sua altura, muito embora tivesse poucos anos de estudo acadêmico.
um dia o apêndice de joão explodiu. ele segurou ao máximo para ir ao hospital, pois sabia que não deveria ser nada demais. mas era. seu intestino estava repleto de apêndice explodido. diante de sua demora, ficou 3 meses hospitalizado, por causa de uma infecção interna.
quando saiu de volta ao mundo real, joão percebeu que tudo permanecia do mesmo modo, mesmo que não tivesse o seu dedo em nada daquilo. algumas coisas, na verdade, haviam ido para caminhos muito frutíferos.
joão se emburrou. teve que criar outro grupo, onde pudesse reinar. não pode conviver com a ideia de que aquilo tudo podia girar sem ele. fez disso um moinho. destruiu tudo que podia. debandou-se para outros lados, onde poderia ser levado mais a sério.

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