sentou-se, sozinho, na mesa de um buteco qualquer.
pensou em escrever um poema,
tirou uma caneta do bolso e um guardanapo da mesa.
parou, encarando o papel em branco.
olhou ao seu redor.
foi quando notou a presença dela.
imediatamente, chamou o garçon.
anotou seu telefone no guardanapo.
domingo, 28 de dezembro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
o dia em que morreu meu guarda-chuva
Sobre a morte do meu guarda-chuva, hoje:
Chovia muito há dias. O vento fazia meu guarda-chuva tremer. Tentava colocá-lo na posição correta para que não se despedaçasse. Lembrei do maldito vendedor falando das varas duplas ultra-resistentes. Por 10 pila, isso não poderia ser verdade. Passei por dois prédios tão altos que mais pareciam um cânion. O vento encanou e o meu guarda chuva não apenas “virou do avesso” (fácil de consertar). Ele se destruiu. Retorceu-se de tal maneira que até parecia uma escultura de bienal. Pensei até num nome da “intervenção” – o último suplício da manufatura. A água caiu no meu rosto, gelada. Primeiro, tentei me proteger. Era inútil. Após alguns metros, me dei conta que me sentia melhor; não estava amargurado como as outras pessoas que – secas – portavam seus guarda-chuvas. Era como se tivesse me livrado de um rancor. Por derradeiro, me dei conta que o guarda-chuva não era nada mais nada menos que um aparelho que nos faz esquecer da nossa natural condição de seres-vivos, constantemente sujeitos às intempéries e, principalmente, sujeitos a morrer. A água parou. Estava embaixo de uma marquise. Meus pensamentos se perderam enquanto tentava desviar das pessoas que não fechavam seus guarda-chuvas nem embaixo de um teto, com medo que uma gota que seja os atinja ou com medo de se dar conta que até mesmo as piores chuvas têm um abrigo.
Chovia muito há dias. O vento fazia meu guarda-chuva tremer. Tentava colocá-lo na posição correta para que não se despedaçasse. Lembrei do maldito vendedor falando das varas duplas ultra-resistentes. Por 10 pila, isso não poderia ser verdade. Passei por dois prédios tão altos que mais pareciam um cânion. O vento encanou e o meu guarda chuva não apenas “virou do avesso” (fácil de consertar). Ele se destruiu. Retorceu-se de tal maneira que até parecia uma escultura de bienal. Pensei até num nome da “intervenção” – o último suplício da manufatura. A água caiu no meu rosto, gelada. Primeiro, tentei me proteger. Era inútil. Após alguns metros, me dei conta que me sentia melhor; não estava amargurado como as outras pessoas que – secas – portavam seus guarda-chuvas. Era como se tivesse me livrado de um rancor. Por derradeiro, me dei conta que o guarda-chuva não era nada mais nada menos que um aparelho que nos faz esquecer da nossa natural condição de seres-vivos, constantemente sujeitos às intempéries e, principalmente, sujeitos a morrer. A água parou. Estava embaixo de uma marquise. Meus pensamentos se perderam enquanto tentava desviar das pessoas que não fechavam seus guarda-chuvas nem embaixo de um teto, com medo que uma gota que seja os atinja ou com medo de se dar conta que até mesmo as piores chuvas têm um abrigo.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
a noite da existência
Quando Bruna apareceu com aqueles sapatos coloridos
e “super confortáveis” não tive muita vontade de usá-los, apesar de ela tê-los
trazido especialmente para mim. Era uma menina doce, com sorriso ingênuo, de
quem recém aprontou algo Seu olhar era daqueles de dar esperança na humanidade
Tudo isso me fazia sentir uma enorme simpatia por Bruna, mas nada disso
conseguiu me demover da ideia de usar aqueles sapatos. Ela os deixou em cima da
mesa e saiu, um pouco frustrada pela minha falta da de animação mesmo com toda
a propagada que ela tinha feito. Voltaria mais tarde, avisou. Comecei a lavar
louça, acumulada já há alguns dias, ouvindo o rádio, mas algo me incomodava;
não era a quantidade de louça nem a opinião conservadora do locutor, era como
se alguém me observasse. Por não suportar mais, me viro e corro os olhos pela
cozinha. Quando estava prestes a me virar, percebo aquele tênis colorido
deixado por Bruna. Paro, seco as mãos e vou em direção a ele. Analiso todos os seus aspectos (cheiro,
material, flexibilidade) e o solto de volta à mesa. Sento na cadeira e passo a
encarar os tênis. Transcorrido algum tempo, a cor dos tênis e seu prometido
conforto me deram uma grande vontade de calçá-los; o que fiz com certa falta de
destreza, como se nunca houvera calçado um calçado. Logo ao levantar, percebi
que – de fato – eram muito confortáveis. Subitamente, senti uma vontade de sair
e caminhar; o que foi uma experiência realmente prazerosa: as ruas pareciam
mais coloridas e os sons mais musicados. Me surpreendi como o conforto e as
cores do tênis alteravam minha percepção do ambiente. Após me deixar perder
pelas ruas, sem que soubesse quanto tempo caminhava, avistei um parque que
nunca havia me chamado atenção. Passei a correr no parque e, cada vez mais,
sentia que os tênis faziam parte de mim, como se eles se integrassem ao meu
corpo. Parei pra descansar em uma pedra e percebi que havia um buraco muito
grande. Me aproximei, devagar. Dentro do buraco havia uma luz, era grande o
suficiente para que eu entrasse. Sem me dar conta do porquê, entro no buraco,
com certa dificuldade. Havia uma grande galeria, não muito bem iluminada; onde
se podia ver, contudo, uma escada de madeira, descendo ainda mais. Passei a
descer até que tropecei.
Ao cair, percebo que já estava em uma cabana toda de
madeira. O teto era negro e havia apenas uma janela, com uma cortina encardida.
Por todos os lados, se viam bitucas de cigarro e álcool. Além da escada pela
qual havia descido, havia apenas a porta do banheiro e um cômodo único que
consistia na sala e na cozinha. De móveis, apenas uma mesa, sem cadeiras. A
porta de saída estava trancada e não havia sinal de nenhuma chave. Me virei
para analisar se havia algo na parte que servia como cozinha – havia um fogão e
muita louça suja. Ao me virar para a sala, percebi que já não estava mais
sozinho na cabana. Uma coruja enorme e de óculos pousara em cima da mesa. Uma
hiena com sorriso debochado estava próxima da escada. Na janela, se via um
grande grilo e, por fim, um corvo muito escuro caminhava próximo à porta.
Estranhamente, não me senti incomodado com o grupo que me cercava e as palavras
saíram naturalmente:
- Onde estou?
- Da porta pra dentro, respondeu o corvo.
- Posso sair? Perguntei com certa apreensão.
O grilo, em um salto, se postou diante de mim e
disse:
- Isso depende de ti, não de nós.
A hiena riu e correu pela sala em velocidade.
Aproximou-se da coruja e falou algo. A coruja fez uma cara de assentimento,
olhou fundos nos meus olhos e disse:
- Tudo vai ficar bem, tu precisa apenas relaxar.
A hiena gargalhou de alegria e seguiu saltitante
pela sala. Fechei os olhos e tentei pensar. Quando me dera por conta, me senti
muito estupido. Para sair dali, bastava subir a escada novamente. Me dirigi à
escada e o grilo falou com receio:
- Talvez não seja uma boa idéia....
Ignorei a advertência e fui subindo. Degrau por
degrau, uma luz aumentava. Quando já estava na metade da escada, esta se
transformou em uma rampa, fazendo com que escorregasse e batesse com força na
parede. O riso da hiena foi estrondoso. A coruja voou até perto de mim,
repousou carinhosamente sua asa no meu ombro e disse, novamente olhando fundo
dos meus olhos:
- Permita que o tempo diga quando tu estiveres
pronta para a escada.
- Tempo? Que tempo? Quantas horas?
De relance, percebo que a hiena fala ao ouvido do
corvo.
- Aqui, não há horas a serem medidas. O tempo é
apenas tempo. Responde o corvo.
- O que você precisa entender é que
aqui não há como saber quanto tempo se passou, apenas sentir, me diz o grilo,
talvez percebendo minha cara confusa.
Resolvo sentar ao chão e me ponho a
pensar. A única explicação plausível é de que tudo não passava de um sonho. Aquilo
tudo tinha que ser um sonho e eu precisava apenas acordar. Fecho os olhos e me
belisco. Nada. Mais forte. Nada ainda. Vou ao banheiro e molho o rosto, sigo na
mesma. Da sala, ouço a hiena rindo com força. Volto apressado e grito pra ela:
- E tu? Só fica dizendo aos outros o
que eles devem falar e rindo? Não acrescenta em nada??
A hiena ri com força e estouro toda
minha raiva. Tento chutá-la, mas é em vão, a hiena é muito mais rápida. Quando
está numa distância segura, ouço a voz da hiena pela primeira vez:
- Tu vai desperdiçar a noite da
existência assim?
- Mas nada disso é real!! Grito.
A hiena corre para a cozinha até que
não posso mais vê-la. Vou atrás e vejo Bruna, com seu sorriso habitual.
Segurava uma caderneta vermelha em uma das mãos e um lápis em outra. Com calma
e me estendendo a caderneta ela diz:
- Tu logo vai voltar. Tudo vai dar
certo.
Bruna se bota ao lado da coruja, que
tem sempre o mesmo olhar fixo em mim. Não estava calmo. Nem mesmo com o
conhecido rosto de Bruna. Sento-me. Com uma dificuldade infantil, escrevo na
caderneta “noite da existência”. Tento respirar, mas o ar parece arder. Refaço,
mentalmente, como cheguei até ali e me recordo que tudo começou quando calcei
os tênis coloridos. A solução lógica seria apenas tirar os tênis e tudo
terminaria; só então percebo que já não existem mais tênis, eu estava descalço.
Pergunto à Bruna:
- Isso é real?
- Sim, tudo isso é real e tudo vai ficar bem,
responde.
Essa realidade, no entanto, me fazia sentir dor.
Queria voltar no tempo, nunca ter posto aqueles malditos sapatos. Começo,
então, a girar no sentido anti-horário, sob o olhar atento do corvo. Aquilo, ao
meu ver, me faria voltar no tempo. Giro cada vez mais rápido, de braços
abertos. Com os olhos fechados e os braços abertos, giro. Tento não ficar
parado na noite da existência, tento sair desse lugar. Quando já havia perdido
a noção de quantas voltas, caio de bunda no chão, o que faz a hiena rir alto.
Abro os olhos e tudo parece igual: o corvo me olha com apreensão, o grilo fala algo
que soa (e apenas soa) inteligente, Bruna me olha com pena. A coruja voa até
mim e tenta me acalmar uma vez mais.
Depois de mais este fracasso, me ponho a escrever
alucinadamente na caderneta; tudo que me vem à mente. Olho ao meu redor e
percebo que, agora, a cabana estava lotada de artistas: Fellini, Dali, Kurt,
Gilmour, outros tantos. Eles apenas leem o que escrevo na caderneta e riem.
Aquilo tudo me acalma, eles sabem o que acontece e sabe que a porta da cabana
irá se abrir.
Ou não? Ou será que todos ali estavam mortos e eu
também? Gilmour estava vivo, tinha certeza. Ou será que ele havia morrido em um
acidente de carro? Não conseguia ter certeza. Eu estava morto, só podia. Apenas
aí, tudo se encaixava: animais falantes, artistas mortos, tudo. Eu estava morto,
havia passado dessa pra melhor, provavelmente de algum jeito bizarro, esquecido
do mundo dos vivos, deixado apodrecer em um canto qualquer; comido pelos
vermes. Eu estava morto. Não havia outra explicação. Sentia que minha vida toda
havia sido como um curso de um rio e que agora tudo acabava; não existiam mais
margens que me prendiam, apenas terra. Eu era a água escorrendo pela terra, sem
rumo definido. Nada mais fazia sentido, pois não havia um desenlace possível. A
única coisa que precisava era do meu corpo. Precisava ver meu corpo e tudo
acabaria.
Olho para Bruna e grito:
- Onde tá meu corpo? Me mostra o que restou da minha
existência! Eu quero ver os vermes se apossando da minha carne!
Quem responde é a coruja:
- Tu estás muito mais vivo que jamais esteve. O
tempo irá te mostrar que isso passa.
O grilo complementa:
- Isso tudo não passa de um momento em que tu te
sente fora do corpo, mas o dentro e o fora se complementam.
Outra vez, o maldito dizia algo sem sentido. Saio
correndo para a cozinha, me isolo. Se eu não estou morto, onde estão as pessoas
normais? Aquelas cuja existência é uma eterna obrigação impensada? Aquelas que
esperam sua morte com a boca cheia de dentes na sala de jantar? Onde estavam
elas?
Como quem ouve meus pensamentos o corvo me arrasta
até a janela. Retiro a cortina encardida, quase rasgando-a. Olho para fora e lá
estão as pessoas normais. As pessoas que não se importam com a porta pra
dentro, diz o corvo. O devir é um eterno dever, não há escolhas, apenais
aceitação. Fecho a janela assustado; pela primeira vez queria estar entre
aquelas pessoas que tanto me causaram asco. Queria não sentir medo, queria sair
daquela cabana.
Me ponho a escrever na caderneta. A hiena, então,
tira a caderneta das minhas mãos e corre para longe. Me desespero como nunca.
Sinto minhas pernas desmoronarem; não posso acreditar no que está acontecendo.
É como se a única ponte com a realidade houvesse ruído. Estava ilhado na porta
pra dentro. A maldita hiena havia destruído tudo que restava fora de mim. Passo
a gritar para a infame hiena:
- Eu não suporto mais tua presença! Teus risos, teu
controle! E agora tu me tira a caderneta!! Por quê?? O que eu te fiz??
A única resposta da hiena é risada.
O restante do grupo se aproxima de mim e tenta me acalmar. A única coisa que
queria era ver meu cadáver e tudo estaria terminado. Não podia mais suportar.
Passo a girar novamente. Tudo fica escuro.
Como se houvesse passado anos. Como
se todos os monstros dentro de mim ainda gritassem. Como se a vida não fosse
outra coisa que não confusão. Toda a insanidade do mundo. Foi isso que senti na
fração de segundos seguintes ao abrir meus olhos e perceber que estava em meu
quarto. Bruna tomava um chá e me olhava. Sorri brevemente. Pergunto:
- Este é o momento que pergunto que
tudo seguirá bem como antes e que passo a fingir que nada aconteceu?
Pesadamente, Bruna responde:
- Sim.
domingo, 21 de setembro de 2014
finais
No lo
comprendía. ¿De adonde venía tanta rabia? ¿Y… aquellas palabras?
¿Cómo,
pero como, tanto amor podría transformarse en odio?
Si
hubiera yo lo traído…
Decía
que nuestra trama fuera nada más que una pierda de tiempo, una inutilidad.
¿Pero, que
hizo yo para oír tan doloridas palabras?
Bueno, yo dejé
de amarlo....
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Tinha medo, muito medo.
E se, da noite para o dia, ela parasse de olhar para ele?
Como seria viver em um mundo sem aqueles dois olhos
penetrando no fundo da sua existência?
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Ouviu atentamente os passos dele no corredor. Sabia que,
mais uma vez, teria que explicar-se.
Não sabia o que poderia incomodá-lo naquela noite, mas sempre
havia algo.
Por vezes, deixava louça suja pra ficar na cozinha; isolada.
Outras vezes corria para o quarto.
A novela a salvava de uma conversa.
Depois de 27 anos casada, em nada mudava a sensação de que
devia algo a ele.
Como uma obrigação eterna. Até o dia de sua morte.
Quando a chave girou na porta, o ruído surdo de um tiro
ecoou na cozinha.
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Masturbava-se pensando no homem que dormia ao seu lado.
Não eram, no entanto, a mesma pessoa.
Sonhava com o homem de 20 anos atrás.
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Acreditar que aquela que amou era uma monstra foi a única maneira de salvar Olivia da
completa insanidade de não enroscar suas pernas na dela em uma fria madrugada de julho.
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Foram 2 anos. Dedicou a ele o amor de uma vida.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
a avenida começava com um viaduto.
tinha quatro pistas para carros e alguns onibus lotados.
havia prédios altos dos dois lados.
as árvores foram substituídas por postes de alta tensão.
e, quase desapercebida, uma frase, em vermelho, resistia a tudo isto num dos altos muros da avenida;
haja tinta pra tanto cinza.
haja tinta pra tanto cinza.
Nadie tiene más medo de algo que el silencio
Es lo mayor miedo que tenemos.
Es el campo vacío.
Es la soledad.
[…]
El silencio es el final imprevisto
de una conversación.
El silencio es un sentimiento complejo,
que no si describe.
El silencio es la palabra no dicha.
La mirada desviada.
Uno no puede suportar escuchar el vacío.
El vacío que hay adentro de todos nosotros.
Entre nosotros.
Necesitamos hablar para no escuchar el silencio.
Pues el silencio
[…]
Así que enmudecer nos hace pensar,
Nos hace dar por cuenta de que las cosas acaban,
De que la vida nos trae otras palabras
En el tiempo cierto.
El silencio es como la muerte,
una pequeña muerte.
Pero, vivir también es callar.
También es morir.
Y un poco a cada día nosotros callamos y morimos.
Callar es mirar la ventana del alma
Que son tus ojos.
Callar también es sentir el compaso de tu corazón.
La velocidad de tu respiración.
Callar es tu mirada al infinito
Al triste infinito de la duda
Y no saber lo que hacer.
Y no saber lo que decirte.
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