Sobre a morte do meu guarda-chuva, hoje:
Chovia muito há dias. O vento fazia meu guarda-chuva tremer. Tentava colocá-lo na posição correta para que não se despedaçasse. Lembrei do maldito vendedor falando das varas duplas ultra-resistentes. Por 10 pila, isso não poderia ser verdade. Passei por dois prédios tão altos que mais pareciam um cânion. O vento encanou e o meu guarda chuva não apenas “virou do avesso” (fácil de consertar). Ele se destruiu. Retorceu-se de tal maneira que até parecia uma escultura de bienal. Pensei até num nome da “intervenção” – o último suplício da manufatura. A água caiu no meu rosto, gelada. Primeiro, tentei me proteger. Era inútil. Após alguns metros, me dei conta que me sentia melhor; não estava amargurado como as outras pessoas que – secas – portavam seus guarda-chuvas. Era como se tivesse me livrado de um rancor. Por derradeiro, me dei conta que o guarda-chuva não era nada mais nada menos que um aparelho que nos faz esquecer da nossa natural condição de seres-vivos, constantemente sujeitos às intempéries e, principalmente, sujeitos a morrer. A água parou. Estava embaixo de uma marquise. Meus pensamentos se perderam enquanto tentava desviar das pessoas que não fechavam seus guarda-chuvas nem embaixo de um teto, com medo que uma gota que seja os atinja ou com medo de se dar conta que até mesmo as piores chuvas têm um abrigo.
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